Turismo religioso

Lourdes e o turismo de cura pela fé

Embora possa parecer que turismo religioso seja uma coisa só, prefiro acreditar que esse seja um amplo e flexível guarda-chuvas, debaixo do qual estão abrigados os mais diversos nichos.

Um deles, pouquíssimo explorado no Brasil, pode ser chamado de turismo de cura pela fé ou turismo religioso para doentes.

Todos nós, de alguma maneira, em algum momento, precisamos pedir pela cura de alguém, ou agradecer quando ela acontece, o que costumamos fazer nas nossas orações ou nas igrejas e templos que frequentamos.

Só que em muitos casos, infelizmente, a cura a ser pedida beira o impossível, precisa ser milagrosa, e aí esse pedido ou agradecimento requer ser num lugar especial.

Embora muitos destinos de turismo religioso mundo afora recebam pessoas em busca de cura para problemas de saúde físicos ou espirituais delas mesmas ou para seus parentes e amigos, com certeza a pequena Lourdes, situada na bela região dos Montes Pirineus, na França é de longe o principal deles.

Imagem de Nossa Senhora de Lourdes, na Gruta das Aparições, no Santuário de Lourdes - Foto Pierre Vincent

Imagem original de Nossa Senhora de Lourdes, na Gruta das Aparições

A fama da cidade, que abriga o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, teve início em 1858 quando Nossa Senhora apareceu em 18 dias diferentes para Bernadette Soubirous, de 14 anos de idade, que era doente crônica, analfabeta e muito pobre.

Essas aparições aconteceram na Gruta de Massabielle, que era na época o lixão da cidade, onde a jovem tinha ido com a irmã e uma amiga para recolher gravetos trazidos pelo rio que passava na frente para ajudar a aquecer a casa da família.

Numa das aparições, a imagem, que mais tarde se identificou como a Imaculada Conceição, disse a Bernadette para beber e se lavar, indicando um canto da gruta.

Como não existia água no local, ela cavou o solo com as mãos até começar a brotar água, que no início era barrenta mas logo se tornou cristalina.

Numa cidade pequena é difícil se guardar segredos e logo muitas pessoas estavam acompanhando Bernadette nas suas visitas à gruta.

Dias depois da fonte ter sido revelada, uma mulher que tinha um dos braços e a mão deformados por causa de um acidente, esperou que todos voltassem para a cidade e mergulhou a mão na água da fonte revelada por Bernadette.

A cura foi imediata e a informação logo se espalhou, primeiro pela região, em pouco tempo pela França e os países vizinhos e, aos poucos, pelo mundo todo. E com a fama, vieram as pessoas em busca de cura.

Desde essa primeira cura milagrosa foram contabilizadas outras 69 oficialmente reconhecidas pela Igreja Católica, além de mais de 7.000 consideradas inexplicáveis pela Medicina. Mas entrar para essa lista não é nem um pouco fácil.

Para que isso seja tratado com seriedade, o Santuário de Lourdes conta desde 1883 com um departamento especializado que verifica a fundo cada caso relatado.

Para uma cura ser reconhecida como extraordinária ou inexplicável, uma cura deve atender sete critérios rígidos, como ser repentina, inesperada, instantânea e permanente, com a volta do paciente à normalidade deve ser completa (e sem período de convalescença).

Fonte da água revelada a Santa Bernadette na Gruta de Massabielle, em Lourdes, na França - foto Viagens de Fé

Fonte da água revelada a Santa Bernadette na Gruta de Massabielle

A fama de local de curas atrai multidões a Lourdes. São cerca de seis milhões de peregrinos por ano.

E esse fluxo de visitantes se reflete na infraestrutura turística: a cidade tem a segunda maior estrutura hoteleira da França, com 189 hotéis, que operam com tarifas bastante competitivas em relação às de outros destinos populares franceses.

Evidentemente, nem todos esses visitantes estão gravemente doentes ou necessitam de cuidados especiais.

Segundo o Santuário de Lourdes, esse público é de 80.000 pessoas por ano, que contam uma oferta de serviços de altíssimo nível.

O grande fluxo de doentes e pessoas com necessidades especiais que chega a Lourdes pode ser avaliado já no aeroporto de Tarbes-Lourdes, que serve a cidade.

Além de serviços mais prosaicos, como banheiros adaptados e muitas cadeiras de rodas, o aeroporto oferece uma ala de embarque especial com quartos para doentes mais graves e área de estar para seus acompanhantes, bem como plataformas para levar doentes com dificuldades de locomoção até a porta dos aviões.

Alguns hotéis exibem no lobby cadeiras de roda elétricas para alugar e as empresas de ônibus de turismo chegam a oferecer veículos equipados com rampas para cadeiras de rodas e acomodações para macas, como se fossem ambulâncias.

Recentemente Lourdes ganhou uma nova conexão aérea com Lisboa, oferecida pela low-cost Ryannair, com duas frequências semanais e passagens com tarifas desde 9,90 euros.

Essa conexão permite a criação de roteiros integrando os Santuário de Fátima e Lourdes e livra os passageiros das cansativas viagens de ônibus oferecidas pela maioria absoluta das operadoras e agências que oferecem o destino no Brasil.

Mal explorado no Brasil

Basílicas da Imaculada Conceição e de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Lourdes, na França - foto Viagens de Fé

Basílicas da Imaculada Conceição e de Nossa Senhora do Rosário – foto Viagens de Fé

Apesar de todo o seu potencial, Lourdes é um destino muito mal explorado no Brasil.

Na maioria das vezes, é só uma das (curtas) escalas em roteiros de ônibus com rótulos genéricos como Santuários Marianos Europeus ou Franceses.

A oferta de pacotes aéreo + hospedagem é praticamente inexistente e a de viagens para passageiros doentes ou com necessidades especiais é nula.

O mesmo vale para programas que tirem proveito das tarifas de hospedagem competitivas para usar Lourdes como base para exploração da bonita região vizinha.

Afinal, além das belíssimas paisagens dos Montes Pirineus, a cidade está próxima a destinos interessantes como Bordeaux, Toulouse, Biarritz e muitos outros.

Em resumo: este é um só um dos exemplos das oportunidades pouco, mal ou ainda não exploradas no Brasil, tanto em destinos nacionais quanto no Exterior.

Não faltam consumidores nem poder aquisitivo; o que falta são empresários que se disponham a investir na exploração as oportunidades existentes!

 

+ Artigo publicado originalmente no portal Diário do Turismo 

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