O tradicional Círio de Nazaré, festa religiosa celebrada na segunda semana de outubro em Belém do Pará em honra a Nossa Senhora de Nazaré, acaba de ganhar uma importante inovação.
Batizada de Círio Todo Dia, a iniciativa permite que, durante o ano inteiro, turistas e devotos façam o mesmo percurso das procissões (chamadas localmente de “romarias”) que integram o Círio.
A iniciativa é da Diretoria da Festa de Nazaré (DFN), responsável pelo Círio de Nazaré, e tem como objetivo permitir que em qualquer dia do ano quem desejar possa percorrer o trajeto da festa em caminhada orante, pagando promessas ou só apreciando o percurso e conhecendo a história de parte de Belém.
Para ajudar os turistas e romeiros a percorrerem o trajeto de 3,6 quilômetros entre a Basílica Santuário de Nazaré e a Catedral Metropolitana de Belém, na Cidade Velha ainda serão instalados totens informativos.
Os totens do Círio Todo Dia terão “placas indicativas e QR Codes que direcionarão os usuários ao site ou ao app do Círio de Nazaré, de maneira a indicar o trajeto e fomentar a oração do terço, com um mistério a cada estação”, explica o coordenador do Círio 2022, Antônio Salame.
Segundo ele, cada totem também vai informar dados históricos daquele determinado ponto do percurso e, ao final do trajeto, o devoto ainda poderá gerar um certificado de participação em arquivo PDF.
Os turistas e romeiros poderão percorrer o percurso tanto entre a Basílica Santuário de Nazaré e a Catedral Metropolitana de Belém, como na “romaria” da Trasladação, quanto no sentido inverso, da Catedral para a Basílica Santuário, como acontece na “romaria” do Círio propriamente dita.
A festa do Círio de Nazaré é celebrada anualmente desde 1793 e foi ganhando aos poucos maior relevância e agregando mais “romarias”.
Chegando este ano à sua 320ª edição, o Círio é uma das maiores festas religiosas católicas do mundo e envolve nada menos que 13 romarias, que sempre terminam no segundo domingo de outubro de cada ano.
A devoção à Nossa Senhora de Nazaré no Pará começou no ano de 1700, quando o caboclo Plácido encontrou uma imagem da Virgem no igarapé Murutucu, onde hoje fica a Basílica Santuário.
Ele levou a imagem para casa, mas ela, misteriosamente, sumiu e foi encontrada no mesmo local no igarapé.
Como isso se repetiu várias vezes, Plácido entendeu que esse era o lugar onde a imagem deveria ficar e construiu uma pequena capela para abrigá-la.
A notícia se espalhou e a capelinha passou a atrair viajantes e romeiros em busca de graças e milagres de Nossa Senhora de Nazaré.
Nove décadas depois, tanta devoção deu origem ao Círio de Nazaré: a procissão foi realizada pela primeira vez em 8 de setembro de 1793, uma quarta-feira. como pagamento de uma promessa.
Impressionado com as romarias à capelinha de Nazaré, o governador português Francisco Coutinho decidiu organizar uma festa pública para divulgar essa devoção.
Toda a população da cidade e do interior foi convidada para uma grande feira, onde as pessoas iriam expor seus produtos da lavoura, além de participar da grande festa religiosa.
Às vésperas da festa, o governador ficou doente e prometeu a Nossa Senhora de Nazaré que, se melhorasse, iria buscar a imagem na capelinha para levá-la até o Palácio do Governo, onde faria celebrar uma missa e que, em seguida, a levaria de volta em romaria.
Como se recuperou, o governador cumpriu sua promessa e assim se iniciou a tradição do Círio de Nazaré.
Até o início do ano 1900, a grande procissão acontecia em setembro, mas a partir de então passou a ser realizada no segundo domingo de outubro.
Inicialmente o percurso era diferente, saindo da capela do Palácio do Governo em direção à capelinha no igarapé Murutucu, até que em 1882, quando o bispo da época decidiu que o ponto de partida passaria a ser a Catedral.
Como as ruas de Belém não eram pavimentadas, viravam grandes atoleiros com as cheias da baía de Guajará, que banha parte da cidade, em especial a área onde passa a procissão.
Por causa disso, a Berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré era puxada por bois, que precisavam do reforço de uma corda para superar esses atoleiros.
Mais recentemente, os bois deixaram de ser usados mas a corda permaneceu e se tornou um dos principais símbolos da festa de Nazaré.
Em função dos cuidados exigidos pela pandemia de Covid-19, a Festa do Círio de Nazaré foi celebrada apenas de forma virtual em 2020 e 2021.
Em 2022, quando o tema da Festa será Maria: Mãe e Mestra, a expectativa é de que a melhora das condições permita que os organizadores voltem a realizar a festa do Círio ao menos em formato híbrido, mas até o momento não existe nenhuma informação concreta a esse respeito.
Foto de abertura: Karol Coelho – Ascom Basílica Santuário
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