Ao mesmo tempo que enriquece espiritualmente quem o pratica, o turismo religioso beneficia cidades, regiões e seus moradores
Amadeu Castanho*
O turismo religioso é provavelmente a mais antiga forma de turismo organizado do mundo, sendo praticado há milênios. No caso das religiões cristãs, existem registros de visita à Terra Santa desde o século IV.
O Caminho de Santiago, popular percurso de turismo religioso, é percorrido desde o início do século IX, quando foi encontrado na Espanha o túmulo atribuído a Tiago, um dos 12 apóstolos.
Em contrapartida, a primeira agência de viagens conhecida, a Thomas Cook, só começou a operar em 1841, na Inglaterra.
Segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT), o turismo religioso representa cerca de 20% do turismo mundial, envolvendo 330 milhões de turistas por ano e movimentando recursos da ordem de 18 bilhões de dólares.
Os principais destinos no Exterior são a Terra Santa e a Europa, onde ficam o Vaticano, santuários marianos como Fátima e Lourdes, assim como outros destinos como Assis, Pádua, Lisieux, Chartres e muitos outros.
Números oficiais defasados
No Brasil, onde existem dezenas de importantes destinos de turismo religioso, o Ministério do Turismo estima oficialmente que 15 milhões de pessoas pratiquem essa modalidade de turismo , mas esses números estão claramente defasados.
Segundo informações oficiais, só o Santuário Nacional em Aparecida recebeu em 2015 mais de 12,1 milhões de visitantes, numa média de pouco mais de um milhão de romeiros por mês.
O Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade, no estado de Goiás, deve receber este ano mais de quatro milhões de peregrinos, 2,8 milhões dos quais durante os dez dias da Romaria do Divino Pai Eterno, entre o final de junho e o primeiro domingo de julho.
A festa do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, importante evento de turismo religioso, movimenta mais de dois milhões de visitantes durante de cada ano.
Já os eventos realizados várias vezes por semana na sede da comunidade católica Canção Nova, em Cachoeira Paulista, SP, levam mais de um milhão de pessoas à cidade todo ano.
Só estes quatro exemplos já somam quase 20 milhões de peregrinos/ano.
Se forem incluídos os números de visitantes de outros importantes destinos brasileiros de turismo religioso, como Juazeiro do Norte, Penha, Bom Jesus da Lapa, Canindé do São Francisco, Nova Trento e o Santuário da Piedade, esse total supera os 29,5 milhões de pessoas.
Embora já seja impressionante, esse número ainda não inclui o grande volume de visitantes do Santuário do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, da Catedral da Sé em São Paulo, da imagem de Santa Rita, no Rio Grande do Norte e das igrejas de Salvador e das cidades históricas de Minas Gerais, só para citar alguns exemplos, ou das milhares de festas religiosas Brasil afora que chegam a atrair dezenas de milhares de visitantes cada uma.
Segundo o Ministério do Turismo, o Brasil possui 344 cidades com atrativos de turismo religioso, sendo que 117 possuem calendário fixo de eventos relacionados à fé. Portanto, pode-se imaginar o imenso potencial de crescimento que ainda existe.
Mercado menosprezado
Apesar da pujança desses números e do seu reflexo econômico para hotéis, restaurantes, lanchonetes e bares, empresas de ônibus e de aviação, lojas especializadas e postos de combustível, o turismo religioso é constantemente subestimado e menosprezado no Brasil, já que parte substancial desse movimento não passa pelos agentes de turismo.
Entre os estados brasileiros ainda são pouco que dão importância ao turismo religioso, ajudando a promove-lo ou investindo em infraestrutura para que ele possa ctrescer.
Embora o foco tradicional do turismo religioso costume estar nos grandes destinos e festas, ainda existe um amplo mercado para ser ocupado, tanto no Exterior quanto no Brasil, seja explorando novos destinos e roteiros ou simplesmente criando novos destinos.
No primeiro caso, podem ser usados como exemplo o caso do roteiro que visita os locais por onde passou a Sagrada Família durante a fuga para o Egito ou o local no Rio Jordão, na Jordânia, onde Jesus foi batizado por São João Batista.
No caso do Brasil, as oportunidades são incontáveis, indo desde as igrejas históricas e relacionadas a cultos de determinados santos aos monumentos, celebrações e festas religiosas.
Ainda existe muito potencial a ser explorado, como prova o exemplo de Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, que em poucos anos passou a atrair centenas de milhares de romeiros por ano a partir da construção da enorme imagem de Santa Rita, uma das maiores imagens sacras do mundo.
Apesar de ser a cidade onde estão enterrados dois santos brasileiros, Santo Antonio de Sant’Ana Galvão e Santa Paulina do Coração Agonizante, São Paulo ainda não tem um roteiro de turismo religioso nem promove a modalidade.
Começam a aparecer caminhos religiosos inspirados no de Santiago de Compostela, como o CRER, em Minas Gerais e os que retraçam os passos de São José de Anchieta, no litoral de São Paulo e do Espírito Santo.
A nova Rota da Luz, que liga Mogi das Cruzes a Aparecida evitando a perigosa Via Dutra é cada vez mais procurada pelos romeiros.
Incrementando a fé e a devoção
O que importante que seja entendido é que turismo religioso não é a exploração do patrimônio religioso nem a utilização das igrejas para ganhar dinheiro.
Muito pelo contrário, é a modalidade de turismo que ajuda a incrementar e fortalecer a fé e a devoção de milhões de brasileiros.
Sua prática evangeliza e ajuda a mudar de vida, como provam incontáveis testemunhos e as salas de ex-votos espalhadas por santuários, igrejas e capelas espalhadas Brasil afora.
Essa modalidade de turismo relacionada ao patrimônio religioso e às festas religiosas é um excelente instrumento de desenvolvimento, em função de seu baixo custo, fácil aplicação e resultados permanentes.
Entre os benefícios que podem ser obtidos estão a valorização e conservação do patrimônio religioso, a preservação do patrimônio cultural, a geração de renda, a qualificação de mão de obra, a atração de novas empresas e negócios, a promoção do artesanato, a diminuição da evasão de mão de obra e o aumento da auto-estima da população.
Para os moradores de dezenas de cidades brasileiras, o turismo religioso é fonte de emprego, de aumento de renda, inspiração para qualificação, perspectiva de melhoria de vida.
Para os municípios, é gerador de empregos e de impostos, oportunidade de atração de novas empresas, além de vetor de atração de investimentos privados, estaduais e federais nos seus atrativos turísticos e na estrutura de transporte, comunicação, saneamento, etc.
Além disso, o turismo religioso ajuda a resgatar, valorizar e fortalecer valores do patrimônio cultural–religioso.
São tradições, festas, cultos, músicas, costumes e até receitas de comidas e bebidas que poderiam ser esquecidas e até perdidas sem esse estímulo.
Talvez o único ponto negativo do turismo religioso seja o uso da palavra turismo, que costuma ser associado ao ócio e ao lazer.
No entanto, basta pensarmos mudarmos esse rótulo para viagens de fé e devoção que até esse obstáculo é superado!
*Amadeu Castanho é jornalista de turismo especializado em turismo religioso e Editor da revista eletrônica Viagens de Fé
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